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O Maranhão confirma a expansão do vírus do autoritarismo
10/05/2020 23:15 em Notícias do Brasil

“Tem documento aí, meu chefe?”, pergunta o policial com rispidez a um homem sentado no ônibus repleto. “Tá indo pra onde?”, interroga outro passageiro. “Desça, pega outro ônibus”, ordena a um terceiro. “Cadê sua documentação que você vai trabalhar?”, interpela um quarto. “Sem documento não vai”, avisa, subindo o tom de voz. Assim como o policial, todos os passageiros estão com máscaras e observam assustados a ação do “agente da lei”. “Vocês precisam entender que o decreto diz assim: ‘essencial’, ‘essencial'”.

A cena mostrada no vídeo, ocorrida em São Luiz do Maranhão, confirma que o vírus do autoritarismo se dissemina pelo país na esteira do endurecimento das medidas de isolamento social, decretadas para tentar conter a proliferação do vírus chinês. No Maranhão, o governador Flávio Dino (PCdoB) decretou lockdown na última terça-feira, dia 5. A medida impõem restrições ainda maiores para a circulação de pessoas, que não podem deixar suas casas sem um documento que justifique a saída. Além da capital, o confinamento obrigatório no Maranhão abrange as cidades de São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa.

Como em todas as grandes cidades brasileiras, a medida tem funcionado bem nas regiões centrais e principais avenidas, que seguem vazias. Nas regiões periféricas, contudo, onde boa parte da população não pode se dar ao luxo de ficar em casa, foram registrados vários pontos de aglomeração, como em paradas de ônibus. O uso de máscaras tem sido frequente.

Na sexta-feira, 8, o Maranhão havia registrado o maior número de casos de coronavírus em 24 horas desde o início da pandemia. Foram 856, num total de 6.765 infectados em 149 municípios – com 1.587 curados e 355 óbitos.

Depois que Jair Bolsonaro publicou o vídeo em seu Twitter, Flávio Dino rebateu a postagem do presidente. “Bolsonaro inicia o domingo me agredindo e tentando sabotar medidas sanitárias determinadas pelo Judiciário e executadas pelo Governo”, escreveu o governador. “E finge estar preocupado com o desemprego. Deveria então fazer algo de útil e não ficar passeando de jet ski para ‘comemorar’ 10.000 mortos”.

Depois da resposta ao presidente, Dino ainda usou o Twitter para divulgar “orações pelas mães e pela saúde pública”, agradecer o trabalho do Corpo de Bombeiros na distribuição de máscaras para a população, contar que o “secretário de Estado e pastor Enos Ferreira” está liderando um trabalho de visita às unidades de saúde “para levar orações” aos pacientes, e informar que vai requisitar leitos de hospitais privados para tratar os contaminados pelo coronavírus.

É muita oração para um comunista — que, por definição, abomina a religião. Sobra reza e falta compaixão. O governador não viu nada de mais no truculência com que o policial tratou os passageiros do ônibus. Eles fazem parte da população que Dino garante estar protegendo.

 

Fonte:revistaoeste.com
 

 

 

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