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Pesquisadores da USP lançam plataforma de compartilhamento de insumos
09/04/2020 13:32 em Notícias do Brasil

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) criaram uma plataforma digital, denominada SociaLab, para facilitar o compartilhamento de insumos, como reagentes e linhagens celulares.

Entre os principais obstáculos enfrentados por cientistas estão a burocracia para a aquisição dos materiais, o valor elevado para compra e também a demora na entrega, já que muitos insumos precisam ser importados. 

A falta de insumo pode levar ao cancelamento de pesquisas, cujos resultados acabariam se revertendo em benefício à sociedade. No contexto da pandemia de covid-19, os atrasos tendem a piorar, com a redução da malha aérea.

A proposta da SociaLab é simples: quem estiver precisando de um insumo, ou tiver algum disponível, registra na plataforma. Na mensagem, devem ser informados o item desejado, a quantidade e dados para contato, para facilitar a comunicação. Após cruzar informações, usuários com compatibilidade entre oferta e procura podem combinar os detalhes do envio do produto. 

Como a plataforma é gratuita, o único gasto gerado é relativo à postagem do material, que fica por conta da pessoa que solicitou a doação. No total, até a última quarta-feira (31), já haviam sido cadastrados cerca de 90 laboratórios de todo o país, na base da plataforma.

A plataforma foi idealizada pelo professor Lucio de Freitas Junior, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. Ele conta que vem aperfeiçoando a ideia há três anos e que "foi feita a muitas mãos", pois acolheu sugestões apresentadas por pessoas da comunidade universitária.

Para ter, compartilhar

O professor diz que a ação tem despertado o interesse de reitores de diversas universidade e instituições de pesquisa de outros países. Para ele, a execução foi agora possível em decorrência de uma nova mentalidade do mundo como um todo, que agora se voluntaria a se organizar de forma diferente, com mais inclinação à partilha.

"A gente tem que se adaptar a condições mais rápidas, mais dinâmicas, não pode ficar perdendo tempo com bobagem. A gente tem que racionalizar o dinheiro de uso público, não por ser altruísta, porque é uma coisa bonita de ser, mas porque é o mais inteligente. Quem ajuda é ajudado", pondera, acrescentando que chegou a perder potenciais parceiros, por se recusar a topar que o acesso à plataforma fosse pago.

Segundo Freitas Junior, a plataforma também já se provou útil para a pesquisa que vem desenvolvendo sobre o novo coronavírus. O estudo poderia ter ficado parado com a falta de um reagente bastante caro, mas o problema foi contornado porque encontrou o material disponível no site. Quem o possuía e havia divulgado no site era um colega que trabalhava a metros de distância, no andar que fica logo acima do laboratório onde trabalha.

"O meu grupo tem muita vivência com drogas para influenza. Nós achamos droga para zika, chikungunya, febre amarela, durante o surto. Só que agora, com o coronavírus, estamos lidando com algo realmente muito mais complicado, porque parou toda a cadeia produtiva. Então, não dá mais para encomendar nada. Os vendedores sumiram, as entregas não são feitas. A pesquisa de coronavírus, por outro lado, para desenvolver diagnóstico, para fazer droga, não pode parar. O que aconteceu? O sistema entrou em colapso, os reagentes acabaram", relatou.

"Estava aqui, no andar de cima, um dos reagentes superimportantes. Ele [o colega] conseguiu o reagente que eu precisava, que, de outra forma, não conseguiria. É impressionante. Está acontecendo, está funcionando."

Fonte: Agência Brasil - Publicado em 04/04/2020 - 08:00 Por Letycia Bond - Repórter da Agência Brasil - São Paulo

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