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China, espionagem e violência: o depoimento da ex-funcionária que revelou o escândalo do Facebook
07/10/2021 16:20 em Música | TV | Internet | Diversão

As revelações de Frances Haugen, ex-funcionária do Facebook, podem ser o maior escândalo da história da big tech. Em depoimento no Senado dos EUA, ela falou sobre engajamento, violência e espionagem. “Quase ninguém fora da plataforma sabe o que acontece”, declarou, na terça-feira, 5. Frances deixou a empresa em maio deste ano depois de discordar da conduta da companhia.

“Espionagem é algo que definitivamente está acontecendo”

Antes de se demitir, ela copiou documentos internos e os compartilhou com o Wall Street Journal, que divulgou o material ao longo das últimas três semanas. Entre as revelações, estão papéis que mostram que celebridades, políticos e influencers de grande visibilidade da rede social eram tratados de forma diferenciada pela empresa — nem todo o conteúdo sofria moderação.

“Classificação baseada no engajamento é perigosa sem sistemas de segurança”

Frances ainda associou o trabalho do Facebook à violência em Mianmar e na Etiópia, além da espionagem praticada pela China e pelo Irã em vários países. “Meu medo é que, sem ação, os comportamentos dicotômicos e extremistas que vemos hoje sejam apenas o começo”, disse Frances, ao mencionar que a big tech nada fez para mudar o algoritmo que estaria incentivando a polarização.

Após o depoimento de Frances, os senadores avaliam impor barreiras ao Facebook.

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Mianmar e terrorismo

Em 2018, o Facebook admitiu que não fez o suficiente para evitar a disseminação de postagens que incitaram o ódio contra a perseguição promovida à minoria rohingya em Mianmar. Desde então, a big tech prometeu limitar a disseminação de “desinformação” no país depois de um golpe militar.

“Quase ninguém fora da plataforma sabe o que acontece”

Contudo, a promessa não foi cumprida, segundo Frances. Na sequência, ao ser interpelada por um senador se o Facebook é usado por “líderes autoritários ou terroristas” em todo o mundo, a ex-funcionária da rede social respondeu que “definitivamente, sim, e o Facebook está muito ciente disso”.

Partido Comunista da China e Irã

Antes de sair do Facebook, Frances trabalhava com a equipe de contraespionagem da empresa. O grupo se dedica a rastrear ameaças na rede, como a de agentes chineses que se passam por ativistas em prol dos direitos dos uigures apenas para atacá-los. “Você poderia realmente encontrar os chineses, com base puramente no fato de que eles praticam esse tipo de coisa”, explicou.

Em março, a equipe de segurança do Facebook revelou que hackers a serviço do Partido Comunista da China tinham como alvo jornalistas e simpatizantes da causa uigur que viviam fora do país asiático. Frances também revelou que o Facebook sabia da participação ativa do governo do Irã espionando agentes públicos dos EUA. “Isso é definitivamente uma coisa que está acontecendo.”

No Senado, Frances criticou a pouca quantidade de profissionais no setor de contraespionagem do Facebook. O gargalo estaria contribuindo para a proliferação de ameaças no mundo digital através da plataforma da big tech.

Classificação baseada no engajamento

Trata-se de um mecanismo que amplifica o conteúdo publicado para estimular os usuários a reagir com curtidas, compartilhamentos ou comentários. Segundo Frances, o dispositivo alimenta a violência étnica em países como a Etiópia, que está dividida por profundas separações regionais e raciais. Dessa forma, o algoritmo precisa ser modificado.

“O Facebook também sabe, eles admitiram em público”, disse Frances. “Sabem que a classificação baseada no engajamento é perigosa sem sistemas de integridade e segurança, mas não implementou essas funções”, observou.

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Facebook cobiçava usuários jovens, apesar das preocupações com a saúde

Frances divulgou um estudo do Facebook segundo o qual 13,5% das meninas adolescentes do Reino Unido disseram que pensamentos suicidas se tornaram mais frequentes em suas vidas após usarem o Instagram.

Outra pesquisa feita pela big tech revelou que 17% das adolescentes afirmaram que seus distúrbios alimentares pioraram com o uso do Instagram. Cerca de 32% das meninas adolescentes alegaram que, quando se sentiam mal com seus corpos, o Instagram as fazia se sentir pior.

Mesmo assim, o Facebook não teria tomado providências, segundo Frances.

Com a palavra, a rede social

“Um subcomitê de comércio do Senado realizou uma audiência com uma ex-gerente de produto do Facebook que trabalhou para a empresa por menos de dois anos, não tinha subordinados diretos, nunca compareceu a uma reunião de ponto de decisão com executivos de nível C — e testemunhou mais de seis vezes apesar de não trabalhar no assunto em questão”.

Fonte: revistaoeste.com

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